Por que eu decidi que vou comprar um Fusca
A segunda está com cara de domingo,
o domingo ficou parecendo um sábado e amanhã vai ter toda aquela cara
de segunda-feira. No meio dessa confusão, tivemos o Dia Mundial do
Fusca, celebrado desde 1995 todo dia 22 de junho — também conhecido como
“ontem”. Pois bem, este escriba nutre uma paixão toda especial pelo
besouro, e ainda não desistiu da ideia de comprar um.
No ano passado, compartilhei com os leitores do Jalopnik Brasil a
decisão de comprar um Fusca para chamar de meu depois de passar meses
pensando em que carro escolheria para substituir meu Fiat Uno Mille
velho de guerra. De lá para cá muita coisa mudou — principalmente o
nosso site —, mas duas coisas permanecem: o Mille (mais velho de guerra
do que nunca) e a decisão de comprar um Fusca. E esta última pode estar
próxima de sair do stand by.
Mas, afinal, por que um Fusca?
O besouro é, sem dúvida, o carro mais
carismático do planeta — não estou falando que ele é o melhor ou o mais
bacana, estou dizendo que ele tem carisma de sobra. Suas formas
arredondadas e a dianteira que lembra uma carinha sorridente são
provavelmente as maiores responsáveis por isso, e o fato de ele ter sido
produzido ininterruptamente por quase meio século, começando na
Alemanha e terminando no México, também não atrapalhou: como existem
milhões e milhões de Fuscas no mundo, praticamente todo mundo tem uma
história que envolva um Fusca em algum momento da vida.
Eu não sou diferente: sempre gostei do
Fusca — desde que me entendo por gente. Dos meus carrinhos de brinquedo,
90% eram Fuscas. Eu fazia meu pai comprar todas as revistas automotivas
que tivessem um Fusca na capa.
E, quando meu pai finalmente tirou
carteira de motorista (ele tinha mais de 40 anos), meu irmão e eu
insistimos tanto que o primeiro carro que ele comprou foi um Fusca —
mais precisamente, um Fusca 1979/80 azul marinho, com motor 1.600, rodas
de 14 polegadas da Brasilia, pneus radiais e suspensão ligeiramente
rebaixada. Não tenho fotos (já faz quase 15 anos e máquina fotográfica,
para nós, era luxo na época), e foi um relacionamento breve — dois anos
depois ele trocou o Fusca por um Fiat Uno CS, que acabou acendendo uma
nova paixão.
Só que o Fusca, o carro em que fizemos
nossas primeiras viagens em família, ficou guardado em algum canto na
minha memória por todos estes anos — até que, no ano passado, tive um
estalo.
O estalo veio na forma do Porsche 911
clássico. Quem gosta de carro passa boa parte do tempo procurando fotos
na internet, e um ensaio que vi com um 911 1963 me encantou e me deixou
triste ao mesmo tempo — em um golpe de realidade, me dei conta que
dificilmente poderia comprar um carro como aquele. Será que havia algo
próximo de um 911 antigo que estivesse ao meu alcance?
O Fusca foi projetado por Ferdinand
Porsche. Seu filho, Ferry Porsche, projetou o Porsche 356. O neto,
Alexander “Butzi” Porsche, projetou o 911. Se o Dr. Porsche era avô de
Butzi, por que não podemos dizer que o Fusca é o avô do 911? Além disso,
a concepção dos dois carros é a mesma, com motor boxer, refrigerado a
ar e pendurado na traseira.
Alguns podem achar a comparação forçada mas, para mim, era o suficiente. Naquele momento, decidi: “vou comprar um Fusca”.
Não demorou para que eu percebesse que
havia mais razões, além da nostalgia, para se ter um Fusca. O besouro é
quase uma escola de mecânica sobre rodas. É um carro de concepção
simples (e antiquada), mas dificilmente se acha alguém que não concorde
que ter um Fusca é uma boa maneira de aprender os conceitos básicos de
manutenção de um carro — até porque você vai se ver obrigado a realizar
pequenos consertos urgentes com certa frequência: a troca de uma correia
ou a substituição de um platinado de ignição (que muita gente até troca
por um sistema de ignição eletrônica) não são coisa de outro mundo.
Outra coisa legal: a possibilidade de
personalização e preparação. Para-choques, retrovisores, forros de
porta, para-lamas, faróis e lanternas, volantes, instrumentos,
suspensão… a gama é imensa. Além disso, existem receitas consagradas
para o boxer de quatro cilindros da Volkswagen — algumas até disponíveis
em kits que se encontram com relativa facilidade. Não estou dizendo que
é fácil, plug and play ou algo assim, apenas que não é preciso buscar soluções mirabolantes para ter um Fusca bonito e que ande razoavelmente bem.
E não podemos esquecer da alma
que o Fusca tem. Não gosto de humanizar carros, mas o Fusca tem algo que
atrai as pessoas — gente de todas as idades: as crianças gostam porque
ele é simpático, e dificilmente um adulto passa incólume por um Fusca
bem cuidado. Acelerar um Fusca, ouvir o ronco estalado do motor e sentir
o cheiro de combustão invadindo a cabine também é uma sensação muito
boa.
E como seria um Fusca ideal, para mim?
Não muito caro, íntegro e andando. Não pretendo modificá-lo muito —
apenas um bom trabalho de suspensão e um motor confiável (na medida do
possível), talvez, com uma preparação leve no futuro. Contudo, a
prioridade é deixá-lo apresentável — uma boa pintura, rodas bonitas e
interior refeito seriam um bom começo — afinal, será um carro de uso
diário.
Gostaria iniciar este projeto ainda em
2014, mas também não tenho tanta pressa — quero encontrar um bom carro e
ter certeza de que ele não me trará (muitos) problemas. Sendo assim,
boa parte do tempo será dedicada à procura.
Até lá, quero que este post seja o marco
zero disso tudo, e minha homenagem um pouco tardia ao Dia Mundial do
Fusca. Parabéns, besouro! Nos vemos em breve!
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